A perspectiva, para o quarto trimestre de 2023, é de diminuição da volatilidade dos preços, com fatores baixistas pesando nas cotações.
No terceiro trimestre de 2023, o mercado de fertilizantes apresentou uma tendência muito diferente daquela observada ao longo dos seis meses anteriores. No início do ano, a ampla oferta disponível se somou à cautela dos compradores, criando um cenário de queda gradual dos preços. Porém, na segunda metade do ano, a força compradora da Índia e do Brasil entrou em cena, favorecendo a elevação das cotações do complexo NPK.
A Índia, segundo maior consumidora de fertilizantes, tem no segundo semestre um período crítico de seu calendário agrícola. A safra Kharif, que envolve culturas como o arroz e o milho, exige adubações que se iniciam em junho e se estendem até agosto. A safra Rabi, em segundo lugar, com o plantio de trigo e arroz, requer aplicações que começam em outubro, e que podem durar até o início de 2024. A necessidade de reposição dos nutrientes no solo indiano fortalece o ímpeto comprador do país, e isto é um fator altista no mercado internacional.
O Brasil, terceiro maior consumidor de fertilizantes, passa atualmente pelo plantio de sua cultura mais importante: a soja. As exigências de adubação nessa época do ano aumentam as aquisições, com volumes elevados de importações e vendas aos consumidores marcando a sazonalidade do consumo brasileiro no segundo trimestre. Este é um outro fator que reforça o sentimento altista no mercado de fertilizantes.
Além do aumento da demanda no Brasil e na Índia, o fortalecimento das compras mundiais foi impulsionado por aquisições que não eram esperadas no mercado: compras fora de época nos EUA, com uma forte temporada de reposição de estoques, e na Austrália, onde a adubação se estendeu por um período mais longo do que o de costume. Combinadas, as aquisições nesses países aumentaram a demanda mundial por fertilizantes, consolidando uma tendência de alta para os preços. Entre julho e meados de setembro, as cotações da ureia nos EUA aumentaram 32%, e, no Brasil, os preços CFR subiram 24%. Neste cenário, compradores que atrasaram as suas aquisições pagaram mais caro.
Essa escalada da demanda mundial, ademais, ocorreu em meio a eventos inesperados na indústria, que limitaram a oferta e reforçaram a tendência de alta, como a) problemas de abastecimento de gás em produtores de nitrogenados, como o Egito e o Irã; b) oferta reduzida fosfatados na China, onde não havia liquidez para negociações spot; c) escassez de fosfatados no Brasil, com a falta de mercadorias a pronta entrega; d) e greves nos portos do Canadá, que dificultaram as exportações do país.
Atualmente, o mercado de fertilizantes passa por uma estabilidade dos preços, com investidores cautelosos. Monitora-se, de um lado, as compras de fertilizantes na Índia, que, a depender dos resultados das licitações, poderá anunciar novas aquisições. No Brasil, a demanda deve arrefecer em breve, pois a janela de aquisição para a adubação da soja está se encerrando, e, com preços maiores e relações de troca deterioradas, as compras para a safrinha tendem a ser adiadas. Sem o ímpeto comprador brasileiro, a perspectiva é de um alívio dos preços no mercado doméstico.
É preciso considerar, todavia, que a demanda pode aumentar na América do Norte e na Europa, onde, em breve, iniciarão as aplicações de outono. Porém, após uma forte temporada de reposição de estoques nos EUA, o volume adicional que será demandado pelos compradores segue desconhecido.
A perspectiva, para o quarto trimestre de 2023, é de diminuição da volatilidade dos preços, com fatores baixistas pesando nas cotações. Espera-se que o final do ano traga consigo uma redução da demanda brasileira, e, na Índia, boa parte das aquisições destinadas à safra Rabi deverá ter sido realizada até então. Sem esses dois grandes compradores no mercado internacional, as aquisições de outono, em países do hemisfério Norte, podem não ser suficientes para a sustentação das cotações no mercado mundial.
Este alívio nos preços, todavia, está condicionado a alguns aspectos, como: a estabilidade do gás natural, uma demanda contida no hemisfério Norte, e a inexistência de eventos disruptivos na produção de adubos. Parte desses fatores, entretanto, como a regularidade da produção de adubos, é imprevisível, e outros, como a estabilidade do gás, é pouco provável ao longo do inverno europeu.
Os fatores baixistas, por fim, poderão ser parcialmente contrabalanceados pela elevação de dois insumos importantes no mercado de fertilizantes: a amônia e o enxofre, que, recentemente, consolidaram uma tendência altista. Até o presente momento, parte da indústria acredita numa trajetória de alta para esses produtos ao longo das próximas semanas.
Fonte: Por Tomás Pernías e Felipe Sawaia, analistas de mercado da StoneX.