Foto: reprodução do Facebook
A força no pulsar das veias de quem dava saltos precisos e passos de dança foi a mesma para criar um espaço de acolhimento, suporte, ensino e conscientização da comunidade negra. O que até então era um sonho de dançar e mostrar sua liberdade tornou algo – muito – maior: em 1988 nascia o Grupo Afro Ganga Zumba, instituição sem fins lucrativos no coração do Bairro de Fátima, que hoje é reconhecido pelo Diário Oficial da União como Área de Remanescentes de Quilombos (Portaria 54 de 14/05/2007).
Mais tarde, com o amadurecimento da equipe e da própria instituição, veio a consciência de despertar para discussões maiores e a associação quilombola virou símbolo de resistência e resiliência. Ajudados pelo programa de incentivo da Petrobrás e também pelo Frigorífico Saudali, O Ganga Zumba cresceu social e estruturalmente. Hoje, o grande espaço pintado em branco com faixas nas cores vermelho, amarelo, verde e preto é multifuncional: apresentações culturais, rodas de conversa e oficinas de artesanato têm aquele espaço como lar. No andar de cima, ampla cozinha acolhe e alimenta os que o quilombo frequentam, e as salas de aula oferecem o suporte necessário às crianças da comunidade que precisam de reforço escolar. Quando é preciso, a Ganga Zumba abre suas portas para todos, como ocorreu nesse outono de 2023, já que concedeu seu espaço para o funcionamento do PSF local enquanto a instituição passa por reformas.
A Assuvap sempre teve interesse em entender mais sobre a associação quilombola e sua dinâmica. Os laços foram se estreitando ao longo dos últimos meses e o trabalho, agora, é trazer para toda a equipe de colaboradores da nossa associação a importância do respeito à vida, independentemente da cor de pele, traços, cabelo ou religião.
A equipe da Assuvap esteve no Ganga Zumba para entender mais como as pautas são tratadas lá e a percepção pode ser definida apenas como: surpreendente! Era uma manhã de 21 de maio, um dia frio, mas com o céu limpo daquele tom de azul da primavera (apesar de não ser).
A pauta da discussão, ‘Diálogos Raça e Gênero’ trazia nomes importantes e com muita propriedade para os assuntos racismo, saúde e empreendedorismo. Palavras-chaves que assim, soltas, são bem desconexas, mas que estavam interligadas quando o assunto é a luta por direitos do povo preto.
Maria Simone Euclides é professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa e abriu a conversa falando sobre racismo em diversos ambientes e a luta antirracista. O enfermeiro Vinícius Apolinário levantou o questionamento sobre o povo preto lutar pela garantia de seus direitos e questionar as falhas no ambiente da saúde e, principalmente, o racismo dentro desta área. E a empreendedora Negra Jô trouxe os desafios do afroempreendedorismo mas, também, a satisfação “de vestir suas irmãs” representar a ancestralidade e cultura através da moda.
Aquela manhã trouxe a consciência de que o Ganga Zumba é uma instituição de apoio, um lugar onde o homem ou mulher negra possa se conhecer e reconhecer, ter consciência do que sua cultura e seus valores representam e impactam na comunidade. O Ganga Zumba é um espaço que vai além do que é aprendido nos livros de história ou apenas praticar a dança. É entender o que toda essa estrutura representa. E é a partir desse momento que o impacto começa!