Desde o relato e publicação sobre a detecção do primeiro isolado de circovírus suíno no Brasil muito foi aprendido, entendido e adequado até a chegada das primeiras vacinas comerciais, em torno de 2007.
Este momento foi um divisor de águas, uma vez que os anos que antecederam a introdução das vacinas comerciais, a produção de suínos passou por diversos desafios, e reestruturações, por se tratar de um agente primário com característica multifatorial e que trouxe muitos prejuízos à suinocultura.
As vacinas comerciais quando introduzidas nas granjas foram extremamente eficazes, e em função disso, praticamente 100% das granjas utilizam a vacina para circovirose até hoje, o que fez com que os quadros clínicos reduzissem, significativamente.
Entretanto, a partir de 2015 houve um aumento de quadros clínicos e subclínicos de circovirose mesmo em granjas que utilizavam vacina há alguns anos, sendo atribuído, principalmente, a possíveis quadros de falha vacinal. Ao isolar o PCV2 e realizar o sequenciamento, foi verificada a presença de novos genótipos do PCV2, representados pelos PCV2b e PCV2d, o que se acredita ser decorrente de uma pressão de seleção em decorrência do uso da vacina. Um estudo conduzido pela Ourofino Saúde Animal verificou uma cocirculação no Brasil de 50% de PCV2b e PCV2d em 50% cada, sendo, atualmente, o PCV2a praticamente inexistente em granjas brasileiras (Gráfico 1) (4).
Gráfico 1. Dinâmica da evolução dos genótipos de PCV2 nos últimos 15 anos oriundo de amostras de granjas brasileiras.
Esta evolução fez com que o vírus sofresse mutações pontuais na região ORF2, em epítopos específicos de importância para o reconhecimento de anticorpos (Ac) e de conformação do vírus, aumentando a chance de possíveis falhas vacinais devido a alterações bioquímicas dos aminoácidos em questão (3). Além disso, estudos demonstram que apesar dos resultados de viremia, sinais clínicos, e quantidade de INF-γ não apresentarem diferenças estatísticas, há uma redução significativa da quantidade de anticorpos (Ac) neutralizantes em leitões vacinados com vacinas PCV2a, e desafiados com os genótipos PCV2b e PCV2d (5). Isto confirma que mesmo pontual, as mutações de aa em regiões de importância para resposta imune e de conformação aumentam significativamente e claramente as chances de falha vacinal, levando a médio/longo prazo a uma mudança da epidemiologia da doença como, ultimamente, vem sendo observada a campo.
Esta mudança se dá através da detecção e observação de leitões próximos à idade de desmame (21 a 28 dias de média) com a presença de alta carga viral em fluido oral (amostra ambiental) e no soro (amostra indivíduo), demonstrando uma circulação importante do vírus nas matrizes, o ambiente já estar com uma circulação importante de PCV2 em um momento em que ele não deveria estar lá presente, assim com a presença de leitões com média a alta viremia.
Portanto, a atualização de vacinas utilizadas para circovirose passa a ser um fator essencial no intuito de reduzir possíveis riscos de falha vacinal e/ou “escape imunológico”.