Podemos olhar para trás e nos lembrar do passado. Às vezes, com certa nitidez, revivemos os períodos mais nostálgicos da nossa infância ou nossos momentos mais recentes, as conquistas pessoais ou coletivas. E se buscarmos em nossas memórias os principais fatos do ano anterior, lembraremos do período de crise que derrubou os preços do suíno brasileiro e culminou em prejuízos avassaladores para o setor.
Reviver o passado, especialmente os momentos mais turbulentos, pode ser uma tarefa exaustiva, mas é essencial para o crescimento do todo. Já diria a milenar filosofia chinesa, “se queres prever o futuro, estuda o passado”. Pois, antes de respondermos à pergunta que nos propusemos nesta edição da revista, precisamos retornar um pouco aos anos anteriores para extrair lições valiosas deste mercado totalmente globalizado, lembrando, por exemplo, do recente episódio vivido com a Rússia, que no final de 2017 suspendeu as importações da carne brasileira e corroborou para a desvalorização do produto.
Algum tempo depois, os ventos mudaram. No início deste ano, foi possível projetar a China alavancando o setor, devido a Peste Suína Africana (PSA) que se espalha pelo continente asiático, dizima planteis e eleva a demanda chinesa pela carne brasileira. (Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) confirmam que os embarques de carne suína registraram altas consideráveis nos últimos meses – e a tendência é aumentar, conforme o produto se torne mais escasso no mercado asiático).
Ainda que a suinocultura brasileira tenha motivos para celebrar no presente, é preciso agir com cautela para garantir um futuro promissor. Lembrar do passado recente e evitar que o mercado externo seja o principal fator a ditar os rumos da suinocultura brasileira pode ser um passo importante. “Temos que ver o que está acontecendo lá fora, nos Estados Unidos e especialmente na Europa”, sugeriu o médico veterinário, Iuri Machado. O profissional aposta que o mercado interno será o grande futuro da suinocultura nacional.
“Nos países da União Europeia, a carne bovina se tornou carne de luxo, enquanto a suína e de frango se tornaram as mais consumidas”, exemplificou. O que acontece nestes países, segundo ele, é que a criação bovina no campo aberto perdeu espaço para as lavouras de soja e milho, devido à valorização dos commodities de grãos. Este recuo da área de pastagem e do rebanho bovino resultou no aumento do confinamento de gado, mas a prática é menos eficiente para bovinos quando comparada aos suínos e frangos. O confinamento fez reduzir a produção e, aliado a isso, aumentar os custos de produção. Como resultado, a carne bovina ficou mais cara.
Segundo Machado, este cenário também é uma realidade no Brasil e tende a se intensificar ainda mais no futuro, o que pode abrir uma brecha no mercado de proteína animal, que certamente será preenchida pelo produto mais atrativo ao consumidor. Neste ponto, a cadeia suinícola brasileira tem uma grande vantagem: ela é bastante competitiva. Conforme apontam os novos levantamentos da InterPIG e da Embrapa, os custos da suinocultura brasileira são tão competitivos quanto de outros grandes produtores de suínos pelo mundo. “A atividade no país está cada vez mais profissional, evoluindo em termos de escala de produção. Mas nosso consumo per capta/ano de carne in natura ainda é baixo em relação aos outros países do mundo”, completa Machado.
Para o profissional, futuramente o consumo interno deve ser o grande destino da carne suína produzida no Brasil, mas será preciso continuar desenvolvendo a qualidade do produto para oferecer uma carne ainda mais atrativa para o consumidor. “O trabalho de marketing das associações é extremamente relevante, assim como o aperfeiçoamento dos processos de produção, tanto nas granjas, como nos frigoríficos, no transporte dos animais ou no melhoramento genético. Ampliar a venda in natura é um processo que começa dentro das granjas, através da adequação e do preparo para o futuro”, disse.
O tema foi debatido pelo profissional durante sua palestra no Seminário Mercado Globalizado, realizado pela Assuvap e ABCS, em junho, na cidade de Ponte Nova/MG. Na oportunidade, também foram apresentados, para dezenas de produtores, os desafios, as tendências e as oportunidades para a suinocultura continuar se aperfeiçoando e conquistar uma fatia ainda maior do mercado interno nos próximos anos. Relembre como foi o evento, clicando aqui.