Entenda como o Vale do Piranga se tornou polo em suinocultura
Quem conhece Ponte Nova sabe de sua importância no cenário econômico macrorregional. A cidade, estabelecida no Vale do Piranga, é um polo referência em saúde, indústria e comércio, mas sua principal força vem direto do campo, tendo como destaque a suinocultura.
Hoje, a região abriga centenas de granjas de suínos, somando mais de 80 mil matrizes, e possui frigoríficos de grande porte como o Saudali e o Cia Carne. A atividade movimenta a economia, gerando três mil empregos diretos e muitos outros em cadeia.
Mas, afinal, como o Vale do Piranga, de relevo montanhoso e sem produção significativa de grãos, tornou-se um dos maiores polos da suinocultura nacional? Para responder a essa pergunta, conversamos com Tarcísio Miranda, produtor e um dos primeiros médicos veterinários a atuar em suinocultura na região.
Segundo ele, muitos foram os fatores que fizeram do Vale do Piranga uma potência na criação de suínos, e o primeiro passo foi dado ainda no processo da colonização mineira, quando os produtos derivados do porco eram essenciais na alimentação das famílias. “As fazendas tinham uma produção diversificada de alimentos, voltada para a sua autossuficiência”, explica o produtor, nascido na zona rural do município de Piranga.
“Na fazenda do meu pai”, continua Miranda, “há 60 anos atrás, tinha uma criação para a época: 12 matrizes. Eu vim para cá [Ponte Nova] em 1977. Existia um tipo de suinocultura aqui, desse modo, menos tecnificada. Na escola de veterinária que eu fiz, a matéria suíno era aprendida por alto”, relata.
Nos anos seguintes, explica o entrevistado, com a queda das grandes usinas açucareiras, a suinocultura começou a despontar na região. Com a entrada da tecnologia, a atividade deixou de ser uma subsistência para se tornar suinocultura em larga escala. Nesse período, Miranda fez cursos de especializações em suínos, foi para o sul do país conhecer as novas tendências e fez um estágio na Agroceres. Ele viu que a atividade não pararia de se desenvolver, muitos produtores do Vale do Piranga começariam a aderir ao novo formato e várias empresas de genética e ração atuariam na região. O resultado: o Vale do Piranga se tornou o maior polo da suinocultura independente do Brasil.
Pergunta: Quais foram os principais desafios para a atividade crescer até esse ponto?
Resposta: A topografia, pois nossa região é muito montanhosa, onerando a construção das granjas, e a distância da produção de grãos. Mas sempre tivemos um mercado muito bom aqui em Ponte Nova. Isso foi o principal. Foi uma opção do momento. Com o aumento de produção, tivemos que abrir novos mercados consumidores.
P: Como foi o processo de tecnificação?
R: Na década de setenta os produtores já preocupavam com a melhoria de suas granjas, introduzindo animais de genética melhorada vinda de outras regiões. Na década de oitenta teve uma mudança radical na forma de criação, mudando instalações, genética, nutrição e sanidade. Nesse momento houve uma reviravolta na forma de criar suínos na região, aumentando produtividade, qualidade de carne, e melhoramento na conversão alimentar.
P: Nesse período de desenvolvimento da suinocultura, qual foi o papel da Assuvap e Coosuiponte?
R: A Assuvap nasceu de uma ideia dos suinocultores nos anos 80. Nos reuníamos no sindicato, cinco, dez pessoas, e conversámos sobre vários assuntos, dentre eles a formação de uma associação. O papel da Assuvap foi fundamental. Após sua fundação, nos reuníamos todas as quintas, e ali tínhamos palestras, um comunicando com o outro, ali começou uma união dos produtores de suínos, estávamos aprendendo e entendendo a suinocultura. A associação representava nossos interesses junto aos órgãos públicos. A Assuvap se tornou o braço político da suinocultura. Já a Coosuiponte, fundada em 1998, é o braço comercial. Após a cooperativa ser fundada, passamos a comprar melhor. Unidos, produtores grandes e pequenos conseguem comprar em melhores condições, não somos concorrentes nesse sentido.
P: O que a suinocultura trouxe para a região de Ponte Nova?
R: Hoje temos mais de 3 mil empregos diretos. Com a tecnificação, os colaboradores das granjas passaram por mais treinamentos, logo, recebem melhores salários. Comercialmente, foram grandes os benefícios, veio a Assuvap, o Saudali, que são importantíssimos para a região. Ela trouxe mais empregos, indústrias, incremento no comercio, nos serviços, ampliando transporte de cargas, transportando grãos e outros insumos.
P: Atualmente, a região conta com a Bolsa de Suínos do Interior de Minas, mais uma ferramenta para desenvolver a atividade. Qual seu posicionamento sobre a bolsa?
R: A BSim é um projeto que soma para a suinocultura. Comercializar o suíno não é fácil, é mercado. A BSim não vai fazer preço. Mas ela trouxe a suinocultura para dentro da Assuvap. As informações que nós temos, com muita consistência, muita seriedade, refletem nesse interesse dos produtores em participarem das reuniões.
Saudali, um projeto ousado
Foi através das reuniões na sede da Assuvap que surgiu um dos maiores projetos para a suinocultura mineira: o Frigorífico Saudali. De acordo com Miranda, o frigorífico contribuiu para a consolidação da atividade no Vale do Piranga. Tornar essa ideia uma realidade, no entanto, não foi uma tarefa fácil. Foi constituída na associação uma comissão de estudo de viabilidade, que foi financiado pelos produtores que acreditaram no projeto. “Submetemos o projeto à apreciação do BDMG, que foi a primeira instituição a financiar o projeto”, diz Miranda. “Não tínhamos conhecimento e nem tradição na indústria frigorífica, então buscamos ajuda técnica de profissionais experientes. Hoje, com trinta e sete acionistas, entendo que foi um empreendimento ousado que deu certo”, finaliza.