Um panorama para compreender o comércio internacional da carne suína brasileira
Equilíbrio, a palavra chave para se definir o mercado. Harmonia entre produção, consumo interno e volume de vendas ao exterior. Em tese, a fórmula parece simples. Mas não é. Quando falamos em economia, são muitas as variáveis e os aspectos que se deve levar em consideração. É uma engrenagem complexa, que se resolve a longo prazo. Molda-se de acordo com as respostas que recebe, aplicada pela regra de Isaac Newton que diz toda ação ter uma reação. E quando a economia do país exprimi sinal de mudança, a engrenagem precisa se adaptar.
Em qualquer negócio, o que temos é um equilíbrio dinâmico. Quando se produz mais do que se consome, o resultado lógico para encontrar a harmonia é a exportação. Até então, vem dando certo, mas precisou se adequar a cada momento. Em 2015, o país exportava 550 mil toneladas de carne suína por ano. Ou seja, em tese, essa era a ponta do iceberg da produção, a “sobra” da subtração entre tudo o que foi produzido e o que foi consumido internamente. Foi o fator harmônico. Caso não houvesse, o preço do produto entraria em queda livre até que encontrasse, enfim, um ponto de acomodação no mercado.
Em 2016 e 2017, o vento tomou novos rumos. Das 550 mil toneladas do ano anterior, a exportação do Brasil avançou para cerca de 700 mil toneladas em 2016, número que se manteve neste patamar em 2017, conforme tabela 1 elaborada pela Bolsa de Suínos do Interior de Minas (BSim).
Em 2018, caminhamos para uma nova mudança. Mas, dessa vez, o país precisa se adaptar para encontrar o equilíbrio entre produção, consumo e exportações, o que preocupa produtores brasileiros. A grande importadora do nosso produto, a Rússia, suspendeu suas compras em novembro de 2017: ou seja, um volume que corresponde a quase 40% dos volumes embarcados no ano passado. Produzimos o suficiente para receber essa demanda, que agora não temos mais.
De acordo com o relatório do CEPEA, desde então o setor buscou alternativas para escoar a produção e diminuir o impacto no mercado interno. Nesse cenário, segundo o relatório, de novembro/17 a maio/18, o Brasil quintuplicou seus embarques à China, indo de 2,84 mil toneladas para 14,02 mil toneladas. O gigante asiático é o maior importador de carne suína do mundo e, em 2016, o Brasil foi responsável por 5,6% da proteína suína importada. Ainda assim, não suficiente para suprir o bloqueio russo. Um impacto no mercado interno, resultando em maior oferta de carne.
Com o excedente, os preços do produto precisaram se acertar: em janeiro, a BSim indicou o valor de R$ 4,20, já em março e abril, caiu para R$ 3,30, o menor registrado no ano até agora.
A possibilidade de renegociação com a Rússia à carne suína brasileira apresenta esperança aos suinocultores. No entanto, o cenário ainda aponta um excedente. De acordo com o coordenador da BSim, Alvimar Jalles, a Rússia vem se transformando em produtora autossuficiente e não deve retomar as exportações da carne brasileira nas mesmas proporções dos anos anteriores. “A solução”, explica Jalles, “vem pelo mercado interno: ajuste de produção, ajuste de consumo”.